quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Guru do Luxo - Carlos Ferreirinha

A atividade do luxo é, definitivamente, a praia de Carlos Ferreirinha. Ele, que já foi presidente da Louis Vuitton no Brasil quando tinha apenas 30 anos de idade (aliás, o mais jovem executivo do mundo a ocupar um cargo dessa importância na poderosa maison francesa), hoje comanda a MCF Consultoria, empresa especializada nas ferramentas de gestão e inovação do luxo, com forte atuação no Brasil e América Latina. Ferreirinha, que fundou a MCF em 2001, é, sem dúvidas, referência quando o assunto é a atividade do luxo

Por Aroldo de Oliveira
Fotos Daniel Cancini


Qual é a melhor definição para o que entendemos hoje como mercado do luxo?
A principal definição é de que esse luxo, que era somente comportamental, que estava associado à riqueza, elegância e sofisticação, hoje é, definitivamente, uma atividade de negócio. É real. Nós estamos falando de um prefixo de gestão, de uma segmentação, uma atividade que gera empregos, fatura, que tem metodologias. A atividade do luxo é pautada e desenhada pelo princípio da excelência. É a transformação do ordinário em extraordinário. O luxo tem comprometimento com os detalhes, com o diálogo emocional, com desejo, com paixão. São produtos e serviços a partir dos quais a tomada de decisão é absolutamente emocional: desejar e querer.

O que gera negócios e movimenta mais dinheiro hoje dentro deste segmento?
Se analisarmos da forma tradicional, é tudo que sempre foi tangibilizado de uma forma mais concreta, como vestuário, moda, acessórios, carros, incorporação imobiliária. Em termos de luxo mais absoluto, estamos falando de helicópteros, aviões, jatos, lanchas, enfim, são as atividades líderes de faturamento, podendo incluir aí também perfumes e cosméticos.

O que de mais novo e rentável está surgindo no setor do luxo?
O que vem a partir daí é que estamos em uma era de consumo pela experiência. Dentro da atividade do luxo, isso será traduzido pela prestação de serviços. Quem roubará a cena nos próximos anos será a hotelaria, centros de entretenimento, mídia, mimos, enfim, mas que você não tangibiliza de forma concreta, você o faz muito mais pela experiência – que é a abertura da coexistência das sensações.

O luxo é altamente indispensável?
Olha, em uma sociedade de consumo, num mundo capitalista, no qual já está mais do que deflagrado que o marxismo e o socialismo ficou apenas no sonho, o luxo é sim indispensável. O desejo é o que movimenta uma sociedade e as manifestações do ser humano.

A crise global pela qual estamos passando afeta o mercado do luxo, ou ele é inatingível até por ser movido pelo desejo?
A crise afeta sim e de uma forma bem forte. A atividade do luxo é um setor emocional, qualquer variação do cenário econômico gera uma dificuldade. Avião que cai em Nova York, gripe asiática, desvalorização do dólar, verão rigoroso, enfim. E é suscetível de forma imediata, porque em se tratando de consumo do supérfluo, basta qualquer mudança de rumo para, primeiramente, cortarmos o supérfluo. Mas ela tem uma peculiaridade, pois tende a se recuperar mais rapidamente do que os outros setores.

Por que?
Porque o consumo do supérfluo é assim. Você o corta de imediato e o recupera assim que achar que está na hora de fazer bem a si mesmo novamente. Esta crise, especificamente, é de caráter de confiabilidade e mexeu imediatamente em uma faixa de consumidores absolutos. Com isso, sofre bastante com o momento e vai precisar de um tempo maior para recuperar o status que tinha de crescimento e desenvolvimento.

Você consegue relacionar as marcas que sofreram de forma mais veemente com a crise?
Falar de marcas, especificamente, é muito difícil. Agora, há companhias que aproveitam o momento para deflagrar uma situação. Por exemplo, existe uma verdade perene na cabeça das pessoas de que a crise fez a General Motors cair. Isso não é uma verdade. A GM estava há dez anos com problemas de gestão, não é de hoje. A crise somente acelerou. Temos de tomar cuidado para não misturar, pois muitas marcas que estão hoje num cenário mais dificultoso, estavam com problemas já há algum tempo.

E quais os que sentiram mais a pressão?
Os setores de consumo absoluto, que envolvem valores altos, como lanchas, avião executivo, jatos particulares, carros de luxo, tudo isso sofreu mais neste momento adverso de mercado.

Falando de números, quanto fatura no Brasil e no mundo a atividade do luxo?
Temos números oficiais da Boston Consulting e o faturamento mundial do mercado luxo é de aproximadamente 450 bilhões de dólares. No Brasil, temos mantido uma taxa de crescimento de 17% nos últimos dois anos. Embora, na pesquisa que a MCF apresentou agora, constatamos um recuo neste número para 12% no ano passado – o que já indica uma retração basicamente em função da crise. E fechamos o ano de 2008 com faturamento por volta de 5.9 bilhões de dólares.

Qual a marca que considera mais poderosa?
Segundo dados de mercado (e isso é medido oficialmente), a Louis Vuitton é a marca e a empresa mais importante deste século na atividade do luxo.

Mais desejada também?
Não, a Vuitton é, dentre as tradicionais, a mais forte. Isso não se traduz, necessariamente, em preferência de consumo. Vuitton tem um grande poder de venda no mundo todo, mas não é somente o desejo que a faz ser comprada, existem diversos outros fatores, tamanha é a sua força. Se formos falar de desejo, há marcas que exercem um poder mais absoluto como Ferrari. Na área de vestuário, Chanel, Hermès e Prada têm destaque no item desejo. Na parte de carros, temos Jaguar, Land Rover e Bentley. Então, temos conceitos distintos entre aquilo que se deseja e aquilo que realmente vende.

Quais as três marcas de maior poder na atividade do luxo?
Sem dúvida, como já citei, Louis Vuitton e Ferrari por já terem ultrapassado o limite daquilo que vendem. Estão dentro de um conceito muito maior, que inclui prestígio, qualidade e exclusividade. Então, diria que os grandes ícones são Louis Vuitton, Ferrari e incluiria nesta lista Chanel, que é uma marca que foi capaz de ultrapassar mais de um século de história mantendo-se dentro de um patamar de inacessibilidade.

Tem alguma companhia nacional de grande importância no universo do luxo?
Muitas. Fasano, Iguatemi, Chocolat du Jour, H.Stern, Emiliano, Copacabana Palace. Na parte social, me impressiono muito com a atriz Carolina Ferraz. Ela tem, impregnado nela, um ar de luxo.

É verdade que as mulheres são responsáveis pela maior fatia de consumo no mercado do luxo? E isso se dá com o dinheiro dos homens ou com o dinheiro delas mesmas?
Se a gente olhar pelo lado do comportamento machista, é com o dinheiro dos homens, mas se olhamos pelo comportamento contemporâneo, é com o dinheiro delas (risos). As mulheres são realmente as maiores consumidoras do mundo – não somente no quesito luxo. Mas a atividade do luxo, tradicionalmente, sempre esteve muito associada com vestuário, moda, com perfume e isso acabou tendo uma eloqüência feminina muito mais forte. O que percebemos é que o homem vem demonstrando uma aceleração de volume de consumo mais impressionante do que a do público feminino.

O que o mercado paulistano tem de mais peculiar na atividade do luxo em relação ao Brasil e ao mundo?
O principal é o poder financeiro. São Paulo concentra quase 60% do consumo e não estamos falando somente da atividade do luxo. Ao lado disso, é uma cidade contemporânea e atualizada, o que faz com que esteja ao lado dos grandes centros mundiais. Isso gera uma vontade de atualização de conceitos, levando este consumidor a buscar novidades o tempo todo. O paulistano é novidadeiro, imediatista, ele busca aquilo que há de mais novo no mundo.

Você já presenciou uma extravagância dentro da atividade do luxo?
Extravagâncias acontecem todos os dias. Sempre falo que acontecem em qualquer segmento. Recentemente foi mostrada uma Ferrari totalmente customizada de pedras preciosas por um sheik árabe. É absolutamente fantástico. Imagine ter um carro como uma Ferrari, com a lataria cravada de ouro e diamantes e o volante com rubis. Mas é extravagante também adolescentes curtirem noites e mais noites na boate Pink Elephant, regadas à La Grande Dame (Veuve Clicquot). Cada balada dessas não sai por menos de R$ 8 a 12 mil. E, disto isto, é bom deixar claro que não existe julgamento se é certo ou errado. Elas acontecem em qualquer segmento, com qualquer produto e em várias atividades.

Quais as três cidades mais importantes dentro da atividade do luxo?
Sempre olho pelo caminho da gestão e nunca pelo lado subjetivo. Desta forma, mesmo que eu não concorde, Paris, Milão e Nova York são fundamentais. Eu, Ferreirinha, prefiro uma cidade como Barcelona. Mas tenho de reconhecer que essas três são extraordinariamente importantes para a atividade do luxo no mundo.

Quais as pessoas que melhor representam este universo?
Um deles é Bernard Arnault, que é o criador e fundador da LVMH, o maior conglomerado de marcas de luxo no mundo. Volto a dizer, isso não quer dizer se gosto dele ou não. Trata-se de um homem visionário e que iniciou o processo da profissionalização da atividade do luxo. Quando olho enquanto criador, creio que Tom Ford será estudado nas escolas de moda e de gestão de luxo daqui uns anos. Houve uma época em que ele transformou uma marca falida chamada Gucci numa poderosa grife que é hoje. Fez uma mistura de gestão com estilo, o que é muito difícil. Aqui no Brasil, existe uma pessoa que me incomoda, que é o Rogerio Fasano – e não vou falar do caráter de gestão dele. O Rogerio é a personificação da obsessão de detalhes. Todos os empreendimentos dele têm uma cultura impregnada de detalhes que surpreendem e encantam.

Qual o destino de viagem que, pela exclusividade e riqueza de fatores, deve estar dentro do mercado do luxo?
São as cidades do interior da Ásia. Quem tem a chance de visitar vilarejos na China, na Tailândia, na Indonésia, se surpreende com uma cultura quase guardada a sete chaves. As minhas melhores experiências de viagem se deram nestes locais.

Tem luxo por lá?
Você sabe que eu trabalho sob a concepção de que luxo está disponível em qualquer lugar do mundo. Talvez não tenha a notoriedade mundial, mas são essas as cidades que trazem surpresas.
O que é indispensável para Carlos Ferreirinha?
Conhecimento. Tudo o que tenho e que sou é fruto foi fruto daquilo que busquei aprender. Sou uma máquina de leitura. Seja com em viagens, com amigos, no cinema, enfim, transformo qualquer coisa numa possibilidade de aprendizado.


Ícones do luxo
As marcas mais poderosas do mundo: Louis Vuitton, Ferrari e Chanel

As marcas mais desejadas: Chanel, Hermès, Prada e Ferrari

Ícones do luxo nacional: Iguatemi, Chocolat du Jour, H.Stern, Fasano, Emiliano e Copacabana Palace

Cidades do luxo: Paris, Milão e Nova York

Pessoas que melhor representam a atividade do luxo: Bernard Arnault, Tom Ford e Rogério Fasano

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